Tá vendo aquelas pegadas de barro no tapete vermelho?São minhas....

Quando penso no processo de seleção para o mestrado, na faculdade, em todos os espaços que estive que não eram pra mim é assim que sinto.
A PUC é um espaço que não é para nós. A academia é um espaço que não é para nós. Parece que as marcas de barro sempre nos acompanham, estejamos onde estiver. A diferença é que na periferia, o barro faz parte da urbanística, na PUC não.
Oh yeah baby... luta de classe elevada ao cubo. Não sou a primeira mulher negra periférica a entrar num mestrado na PUC, isso não. No próprio  curso que vou fazer existem outras mulheres e homens negros. Agora a questão é em relação ao numero de habitantes negros no Brasil, quantos chegam a esse nível acadêmico?
Essa é uma pergunta que fica facinho de responder, depois de uma vaquinha inacreditável para pagar a matricula do mestrado, acho que fica fácil de supor a nossa dificuldade.
Numa perspectiva cultural, acho mais fácil a PUC limpar minhas marcas de barro do chão e até de mim, e me ensinar a usar saquinho no pé para esconder minhas marcas.
Será uma luta, que espero não me perder e esquecer quem sou de qual lado estou e porque estou.
 Espero sempre me lembrar de que para burguesia, eu deveria estar atrás de um tanque lavando calcinha da patroa e sendo abusada pelo patrão. Varrendo lixo na rua ou me prostituindo. Para burguesia eu deveria estar em casa sendo oprimida pelos filhos e pelo marido.
Isso me lembrou uma coisa que li no facebook ontem, uma conversa sobre rebeldia e luta de classe e alguém colocou que a rebeldia não podia ser usada como esporte e somente no momento adequado.
Mas penso que para nós, mulheres proletárias a rebeldia é o que nos dá força para lutarmos. É por sermos rebeldes que nos desvencilhamos das amarras da opressão patriarcal capitalista e subvertemos nosso destino e pouco a pouco vamos construindo nossa história.
É graças a rebeldia que temos força e coragem de dizer: não somos um pedaço de carne, somos gente como vocês – sentimos, sofremos, sonhamos, lutamos, queremos e esperamos.
É com essa força que a gente segue lutando, seja como for e aonde for... Afinal tudo que nos resta nessa vida que nos foi imposta é lutar e se rebelar... Mostrar que a nossa marca, o que nos torna mulher: o útero... é o que nos impulsiona na luta pela revolução, pelo fim do capitalismo e de toda forma de exploração, opressão e exclusão.

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