Sobre crianças e cachorros...



Período de mudança de casa, torna difícil escrever.
Mas, em meio ao caos, ontem aconteceu uma coisa magnifica.
Fazia tempo que não tomava banho com os meninos. Como é divertida as curiosidades infantis!
Depois de massagem, origami no cabelo e de cantar João e Maria do Chico (meu mais velho chama João, ele adora músicas que tenham o nome dele).
Fiquei pensando por que escolhi ser mãe? Na verdade, acho que de uma certa forma a maternidade me foi imposta também, e eu só aceitei a imposição.
Na minha família (e acho que muita mulher vai se identificar com isso) nosso passaporte para a vida adulta é se tornar mãe. 
Não é sair de casa, não é perder a virgindade, não é tomar um porre, não é fazer faculdade. É ser mãe.
Ser mãe te dá acesso ao mundo secreto das mulheres: suas conversas, suas receitas, seus chás, seus banhos afrodisíacos. 
Então, eu penso, que ter sido mãe foi meu rito de passagem.
Minha passagem para a vida adulta: seja pelo reconhecimento do meu grupo, seja com as coisas da vida mesmo (trabalho, perseverança, paciência, dedicação).
Por um tempo, tentei ser a mãe que todo mundo diz que devo ser: meus filhos em primeiro lugar, a maternidade como centro da minha existência. Mas, com a chegada do feminismo, comecei a pensar o que é de fato ser mãe.
Não tenho uma reposta sobre isso, vou me tornando mãe a medida que eles vão crescendo. Aprendendo e ensinado. Me preocupo em educa-los dentro da moral revolucionária, me preocupo com o machismo. Mas não faço dos meninos o centro da minha vida.
É preocupante mulheres que endeusam seus filhos e filhas, declaram amor eterno e único. Normalmente fazem isso quando os danados são bebês.
Acho que é mais difícil amar um cabra de 17 anos, que só quer saber de baladas e skate, não toma banho, não arruma o quarto, só quer saber de encher a cara de sábado e pegar a próxima mina.Normalmente não vejo mães declarando seu amor por figuras como essa. São poucas!
Quando vejo essas declarações de amor eterno por uma criatura de 4 meses, penso que a maternidade deve ser algo tão frustante para algumas de nós, que temos que reafirmar esse ideal monogâmico e principesco de maternidade o tempo todo (eu amo você eternamente meu filho, você é meu principezinho, minha princesinha, vou te fazer feliz para sempre, estarei sempre com você).
Não penso muito sobre a maternidade, pelo incrível que pareça.
Vivo a maternidade a medida que meus filhos crescem. Minha experiência com crianças me ajuda muito, minha formação acadêmica também. Não sei se existe esse amor assim, desmedido.
Já pensei várias vezes como seria a vida sem eles.
Mas, sem eles não haveria banho com massagem e penteado de origami, nem discussões filosóficas acaloradas sobre a coisa inacreditável que é: sobre nós mulheres não termos pipi.
Queria falar sobre os cachorros, e sobre o quanto nos é enfiado guela a baixo o senso materno, que entre parir e ter cachorrinhos, algumas mulheres (normalmente as burguesas, ou pequenos burguesa, ou as que puderam estudar mais) tem filhotes e os tratam como filhinhos.
Mas a sala tá cheia de criança, e já ouvi mais de 100 : Oh mãe!
Fica para a próxima, inclusive li um artigo de uma revista de estudos feministas que discute sobre a maternidade: afinal ser mãe é um imperativo biológico, social ou cultural?





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