Amores líquidos, Tinder e a nova jontex (ultra sensível)


Uma vez conheci um cara, que me disse que gostava de trocar fotos com pessoas do Tinder, veja bem, fotos picantes e picosas.
Na época, o tal Tinder era o fervo entre a turminha das redes sociais, e eu pobrecita que sou, não tinha acesso a tal aplicativo.
Pois bem, o tempo passou, mudei de aparelho e cai na burrada em instalar o aplicativo.
Burrada, não por que não goste de fotos picantes e picosas, mais por que o  aplicativo é no minimo curioso, para não dizer estranho.
A minha primeira impressão é que só existem homens brancos, saradíssimos e que vão pra Europa, no tal aplicativo.
Segundo, é o machismo absurdo, que normatiza as relações virtuais.
Por exemplo, se o cara for teu match mais você puxar papo no inbox, ele não retorna, por que até no mundo virtual a boa máxima de que os homens devem tomar a iniciativa, vigora e com status de verdade católica.
Ai te perguntam: é casada? Digo sim. Silêncio. Tem filhos? Digo dois. E então, acontece a parte que mais gosto: os comentários regulatórios sobre minha libido, meu corpo e a falta de televisão na minha casa (detalhe, em casa tem duas tvs, com tv a cabo hein!). 
Outro dia, um cara me disse que ia me mandar um pacote de Jontex ultra sensível, para ver se eu aprendia a usar camisinha e não ter mais filho.
Eu, do alto da minha sutileza hipopotâmica de feminista, comunista, trotskista, radical ao cubo respondi docilmente: minha conta é tal tal tal, não esquece de mandar a pensão, por que, se tá preocupado com a quantidade de filhos que tenho ou terei, é por que quer me ajudar a sustentá-los (mandei até carinha feliz hein!).
Eu tento viver a pós modernidade, ser descoladinha, trocar fotos bucetantes e picosas pela rede dos computadores.
Eu queria viver amores líquidos com Jontex ultra sensível em encontros marcados pelo Tinder.
Mais sou chata demais, feminista demais, radical demais e sem paciência demais.
Não sei ser sexy, dócil, meiga e cordata.
Defeito de fabricação e formação; o tempo do barraco de palma na Brasilândia foi duro, e fez de mim uma pessoa bruta.
Bruta porém livre.
O aplicativo continua lá, e eu continuo me divertindo com as fotos e as caras dos boys brancos hétero sexy de meia idade. Alguns tentam puxar papo, mais no primeiro "adugue", já pedem pra sair! 
Como diria Mano: a vida é sofrida, mais não vou chorar ;)





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