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O caso do vagão rosa: vagão só para mulheres, sociedade só para homens

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Reza a lenda urbana, que numa cidade enorme como São Paulo (aproximadamente 92 milhões de habitantes), onde 52% da população são espécies do sexo feminino, um simples vagão de trem na cor de rosa, por cada composição, livrará as mulheres da violência sexual diaria neste meio de transporte. Essa mesma lenda, afirma, que dessa maneira, só será vitima de violência quem quiser, já que, embora as mulheres sejam maioria, um vagão por composição será o suficiente para  protege-las. A mídia, que alimenta essas lendas, mostra em seus programas, diariamente, ora sutil, ora escancarado, as mulheres como objeto: de desejo, de consumo, de decoração, de submissão. Na mídia, as tais mulheres, são sempre novas, e quanto mais novinha melhor.  Há um programa em especial, um tal de Zorra Total, que não por acaso (ou seria acaso?), tem um quadro onde uma mulher é assédiada, e demonstra gostar, afinal ela é feia, que mulher feia não ia gostar de ser abusada, não é mesmo? Mas, esse papo de

Pelo direito a felicidade!

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Ando sentindo uma dor esquisita no peito. É uma dor que fica ali, doendo, doendo, doendo. Me pergunto, como se sente algo, que não sabe de onde vem ou por quê? Sabe, essa dor me impede de escrever, de sorrir... Essa dor as vezes me impulsiona, as vezes me para, as vezes me faz gritar, as vezes me cala... Vejo essa dor em outros rostos, outras histórias, na minha memória... Essa dor me faz gente, e eu me pergunto: o que é ser gente? Gente é levantar cedo, trabalhar, pagar as contas, sorrir ao ver um cachorro, discutir a crise mundial, acreditar que o céu é o limite? O que nos faz feliz? A propaganda diz que é o Pão de Açucar, ou um cartão de crédito. Fiz tudo que me disseram: cresci, estudei, casei, tive filhos, militei, e mesmo assim, não me vejo gente, não me sinto gente. Me sinto carne, a carne mais barata do mercado, a carne negra. Me sinto multidão, sem rosto, sem nome, sem história, sem passado, sem presente, sem futuro. Me sinto puta, perdida, largada,

Isso me dá falta de ar - parte II

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São 6 anos. 6 anos que descem pelo ralo. Em algumas culturas as águas usadas são reaproveitadas e servem para fazer outras coisas. Coisas novas diferentes. Mas, quando se chega no fundo, para onde mais se pode ir? Eu cheguei no fundo. Onde não há mais racionalidade, estou onde começa o caminho da mágoa. Não existe caminho sem volta, eu sei. Podemos tudo que quisermos, recomeçar, começar, refazer, fazer. Me sinto sem ar, sem chão, sem apoio. Quem me dera poder fazer como na música, e fazer um traje espacial pra na Lua viver. Mas a realidade é mais concreta que o realismo literário. Fico me perguntando, qual é doce mágica da convivência. Venho de uma trajetória familiar, onde todos os relacionamentos foram ou são fracassados. Meus pais se separam quando eu tinha seis anos, uma parte da família não conversa com a outra, minha mãe não fala comigo a mais de três meses. É nessas horas que eu compreendo todos os estudos sobre o fracasso social de indivíduos com trajetória

Sobre o corpo e a maternidade

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A coisa mais gostosa, quando nosso filho é bebê, é ficar deitado sentindo a pele macia e novinha do bebê. Mas, a medida que os filhos crescem, os momentos de contato pele a pele vão diminuindo. Gosto tanto de ficar deitada com os meninos na cama, brincando, se beijando: a gente brinca de salão de beleza, brinca de massageador, brinca de guerra de coceguinhas... Sempre fico com a sensação, de que mesmo quando forem adultos, eles saberão que meu corpo ainda é um espaço deles, e que desde o tempo da gestação, não há uma barreira entre nós. É uma coisa simbólica, mas acredito que no físico, o simbólico se concretize; e que ao poder tocar meu corpo sem pudor, eles sentirão que eu estou sempre ao alcance deles. Cresci, e me lembro muito pouco de poder tocar minha mãe ou meu pai, nem mesmo depois de adulta. Um simples abraço é motivo de constrangimento. Demorei muito, para compreender a função afetiva e emocional de tocar o outro. Foi preciso conviver cotidianamente com meu c

Quando lavar o banheiro se tornou um ato político .

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Ah, o FaceBook. Nada como ele para agitar essa tarde quente e monótona.  Como diria o poeta: dias quentes e longos pagando paixão. A pessoa que vos escreve, postou lá em terras virtuais (é, a terra dos amores eternos - SQN), que o seu compa tem feito com muito zelo as tarefas domésticas. Algo, como se fosse uma comemoração. E, de fato, um homem lavar o banheiro, na sociedade machista que vivemos, deve ser muito bem comemorado (e usado de exemplo, para que outros homens aprendam). Por que afinal de contas, ser feminista liberando a companheira para sair com quantos parceir@s quiser é fácil (até por que, o cara também se beneficia disso). Duro mesmo é cuidar dos filhos por igual, cuidar da casa por igual e assumir seu machismo sem recalque. Esse papo todo de banheiro e opressão, me lembrou um trecho do livro do Marcuse - A ideologia da sociedade industrial, quando ele explica o processo de dessublimação repressiva. É mais ou menos assim: para o desenvolvimento da civil

Eu tenho medo.

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Eu tenho os mais diversos tipos de medo. Mas, os que tem me acometido no último período são os medos maternos. Olho pros meus filhos, em especial pro João, que é o mais velho, e fico pensando que se eu pudesse, o deixaria livre dos males desse mundo. Ao terminar essa frase, já ouço um certo alguém me dizer, que devo lutar para que ele cresça num mundo humano e justo. Mas aí eu penso: que bom seria se as desgraças desse mundo, só o atingisse na idade adulta. Amanhã é o primeiro dia de aula dele na escola, digo, no 1ºAno do Ensino Fundamental, e ele está todo motivado, empolgado, ansioso.  Fico pensando nas possíveis frustrações, desde a professora ou professor ser um profissional estressado (pelos anos de exploração trabalhista), de que as coisas não saiam como ele está imaginando. A escola é pequena, a sala é super lotada (38 alunos!), faltam recursos didáticos. Mas, ás vezes também penso, que a expectativa dele pode ser bem simples: socializar com outras crianças e oc

Isso me dá falta de ar...

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Me dá falta de ar... Como fazer uma critica aos outros, sem que essa critica derrube pingos em mim? Partindo do principio, da unidimensionalidade dos sujeitos, ou seja, que não há mais diferenciação entre os indivíduos, são todos iguais e manipulados pela ideologia da sociedade industrial; tudo aquilo que critico no outro, tenho em mim. De qualquer maneira, alguma coisa está fora da ordem. Pequenas impressões do cotidiano, que vão sufocando, sufocando, sufocando... até dar falta de ar. Enquanto eu preparava o jantar, fiquei pensando sobre como a vida é tão igual e tão contraditória ao mesmo tempo. Tive a sensação de viver numa gaiola invisível. Presa nos mesmos problemas, igual a música cotidiano do Chico. Só que ao meu ver, a culpa do cotidiano enfadonho não é só dela (como nós faz crer a escrita poética machista do Buarque), que faz tudo igual, mas dele que não se esforça para construir algo novo. Ela pressiona e ele cede. É como, se o cotidiano fosse algo dado, in