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SÓ MINA CRUEL: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E CULTURA AFIRMATIVA NO UNIVERSO JUVENIL DO FUNK

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RESUMO: O presente trabalho é parte integrante da dissertação de mestrado da autora. Têm por objetivo refletir sobre as relações de gê nero entre jovens pobres moradores da periferia da Cidade de São Paulo, e parte do discurso narrado nas letras de FUNK escritas e ouvidas por esses jovens. Parte das reflexões de Herbert Marcuse e Theodor W. Adorno (Teoria Crítica da Sociedade) sobre o caráter afirmativo da cultura e formação, buscando considerar as relações de poder e dominação presente na sociedade moderna de base tecnológica, e quais são as formas que a opressão e a exploração sobre a mulher a partir da cisão entre razão e sensibilidade e o controle da natureza, se materializam no discurso presente no FUNK e nos espaços de relação entre os gêneros na nossa sociedade. A metodologia empregada foi a analise de 21 letras de FUNK veiculadas nos meios de comunicação (rádio e televisão) através de programas voltadas para o público juvenil da classe popular e a análise desse material

“A BUCETA É MINHA”: O CORPO COMO SUJEITO NO MUNDO

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Quais são as intersecções possíveis entre feminismo, funk e empoderamento da mulher? A pedagoga Jaqueline Conceição se debruçou sobre essa questão em artigo que será apresentado na Universidade de Columbia Por Marcelo Hailer* O nome de Jaqueline Conceição circulou nesta semana nos meios de comunicação por dois motivos: primeiro, pela campanha online que ela lançou para angariar fundos para uma viagem aos Estados Unidos, pois o seu artigo “Só Mina Cruel – Algumas Reflexões Sobre Gênero e Cultura Afirmativa no Universo Juvenil do Funk”, que trata da questão de gênero no universo do funk, foi selecionado para ser apresentado em um congresso da Universidade de Columbia, uma referência no mundo. O segundo motivo é que a campanha chegou na cantora de funk Valesca Popozuda, que gostou do projeto e resolveu ajudar Conceição a bancar a sua viagem para a terra do Tio Sam. Conceição resolveu tratar de um tema que é polêmico nos debates feministas, a questão da mulher e do feminismo no

O caso do vagão rosa: vagão só para mulheres, sociedade só para homens

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Reza a lenda urbana, que numa cidade enorme como São Paulo (aproximadamente 92 milhões de habitantes), onde 52% da população são espécies do sexo feminino, um simples vagão de trem na cor de rosa, por cada composição, livrará as mulheres da violência sexual diaria neste meio de transporte. Essa mesma lenda, afirma, que dessa maneira, só será vitima de violência quem quiser, já que, embora as mulheres sejam maioria, um vagão por composição será o suficiente para  protege-las. A mídia, que alimenta essas lendas, mostra em seus programas, diariamente, ora sutil, ora escancarado, as mulheres como objeto: de desejo, de consumo, de decoração, de submissão. Na mídia, as tais mulheres, são sempre novas, e quanto mais novinha melhor.  Há um programa em especial, um tal de Zorra Total, que não por acaso (ou seria acaso?), tem um quadro onde uma mulher é assédiada, e demonstra gostar, afinal ela é feia, que mulher feia não ia gostar de ser abusada, não é mesmo? Mas, esse papo de

Pelo direito a felicidade!

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Ando sentindo uma dor esquisita no peito. É uma dor que fica ali, doendo, doendo, doendo. Me pergunto, como se sente algo, que não sabe de onde vem ou por quê? Sabe, essa dor me impede de escrever, de sorrir... Essa dor as vezes me impulsiona, as vezes me para, as vezes me faz gritar, as vezes me cala... Vejo essa dor em outros rostos, outras histórias, na minha memória... Essa dor me faz gente, e eu me pergunto: o que é ser gente? Gente é levantar cedo, trabalhar, pagar as contas, sorrir ao ver um cachorro, discutir a crise mundial, acreditar que o céu é o limite? O que nos faz feliz? A propaganda diz que é o Pão de Açucar, ou um cartão de crédito. Fiz tudo que me disseram: cresci, estudei, casei, tive filhos, militei, e mesmo assim, não me vejo gente, não me sinto gente. Me sinto carne, a carne mais barata do mercado, a carne negra. Me sinto multidão, sem rosto, sem nome, sem história, sem passado, sem presente, sem futuro. Me sinto puta, perdida, largada,

Isso me dá falta de ar - parte II

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São 6 anos. 6 anos que descem pelo ralo. Em algumas culturas as águas usadas são reaproveitadas e servem para fazer outras coisas. Coisas novas diferentes. Mas, quando se chega no fundo, para onde mais se pode ir? Eu cheguei no fundo. Onde não há mais racionalidade, estou onde começa o caminho da mágoa. Não existe caminho sem volta, eu sei. Podemos tudo que quisermos, recomeçar, começar, refazer, fazer. Me sinto sem ar, sem chão, sem apoio. Quem me dera poder fazer como na música, e fazer um traje espacial pra na Lua viver. Mas a realidade é mais concreta que o realismo literário. Fico me perguntando, qual é doce mágica da convivência. Venho de uma trajetória familiar, onde todos os relacionamentos foram ou são fracassados. Meus pais se separam quando eu tinha seis anos, uma parte da família não conversa com a outra, minha mãe não fala comigo a mais de três meses. É nessas horas que eu compreendo todos os estudos sobre o fracasso social de indivíduos com trajetória

Sobre o corpo e a maternidade

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A coisa mais gostosa, quando nosso filho é bebê, é ficar deitado sentindo a pele macia e novinha do bebê. Mas, a medida que os filhos crescem, os momentos de contato pele a pele vão diminuindo. Gosto tanto de ficar deitada com os meninos na cama, brincando, se beijando: a gente brinca de salão de beleza, brinca de massageador, brinca de guerra de coceguinhas... Sempre fico com a sensação, de que mesmo quando forem adultos, eles saberão que meu corpo ainda é um espaço deles, e que desde o tempo da gestação, não há uma barreira entre nós. É uma coisa simbólica, mas acredito que no físico, o simbólico se concretize; e que ao poder tocar meu corpo sem pudor, eles sentirão que eu estou sempre ao alcance deles. Cresci, e me lembro muito pouco de poder tocar minha mãe ou meu pai, nem mesmo depois de adulta. Um simples abraço é motivo de constrangimento. Demorei muito, para compreender a função afetiva e emocional de tocar o outro. Foi preciso conviver cotidianamente com meu c

Quando lavar o banheiro se tornou um ato político .

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Ah, o FaceBook. Nada como ele para agitar essa tarde quente e monótona.  Como diria o poeta: dias quentes e longos pagando paixão. A pessoa que vos escreve, postou lá em terras virtuais (é, a terra dos amores eternos - SQN), que o seu compa tem feito com muito zelo as tarefas domésticas. Algo, como se fosse uma comemoração. E, de fato, um homem lavar o banheiro, na sociedade machista que vivemos, deve ser muito bem comemorado (e usado de exemplo, para que outros homens aprendam). Por que afinal de contas, ser feminista liberando a companheira para sair com quantos parceir@s quiser é fácil (até por que, o cara também se beneficia disso). Duro mesmo é cuidar dos filhos por igual, cuidar da casa por igual e assumir seu machismo sem recalque. Esse papo todo de banheiro e opressão, me lembrou um trecho do livro do Marcuse - A ideologia da sociedade industrial, quando ele explica o processo de dessublimação repressiva. É mais ou menos assim: para o desenvolvimento da civil