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Mostrando postagens de 2014

A urgência do feminismo negro e o cotidiano da mulher preta!

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Quem tiver estomago, capacidade emocional, veja esse vídeo que circulou essa semana pela internet ( clique aqui ). Eu vi, mas sem ouvir o áudio, ai sem querer cliquei em cima para copiar o link e ouvir os gritos da moça e o barulho do choque da madeira contra o corpo dela. É sabido, que a violência doméstica não é exclusividade dos pobres e negros, mas sim uma praga que corta a sociedade burguesa e patriarcal de ponta a ponta. Obviamente, as mulheres negras estão mais vulneráveis a violência doméstica, pela sua própria vulnerabilidade e marginalidade. Recentemente, participei de um debate sobre o feminismo negro e Angela Davis, e sai de lá com um sensação de  E agora? Me lembro, que a dez meses atrás, quando comecei a ler sobre a Angela, um dos primeiros videos que assisti dela, dando uma entrevista, ela contava como se encontrou com o feminismo. Narrava, que havia conhecido o feminismo quando ainda morava na Europa, e que ao retornar aos EUA, ao se deparar c

Onde queres...

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Eu sou uma pessoa, que me mobilizo a partir das coisas que me afetam. Essencialmente na perspectiva dos sentidos e dos desejos. Mas poucas pessoas afetam meu desejo. Acho que lidar com os sentimentos, é o mesmo que medir o grau do seu nível etílico: é impossível fazer isso sozinho. Por um lado, sempre que uma sensação nova, um querer me desestabiliza, fico feliz por que sei que ainda sou humana, por outro lado, isso é muito ruim, por que no geral, os quereres me desestabilizam. Marcuse (esse danado), disse certa vez numa entrevista (parafraseando o lindo do Benjamin), que a força geradora não é a tecnologia é o nosso querer, que nossa vida, a intensidade de nossa vida é medida pelo quanto queremos. Ainda nessa entrevista, Marcuse diz, que o efeito mais nocivo da industrialização em massa, e sobretudo do crescente avanço da tecnologia na sociedade moderna, não era só a destruição da natureza e o acirramento da desigualdade social com o aprofundamento da miséria, mas fundamenta

New York Parte 1 (Bogotá-Colombia)

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Uau! É verdade, eu realmente fui para NYC! E realmente encarei os dotô na Columbia University. Podemos dizer, que essa viagem teve três partes: 1º Bogotá-Colombia, 2º Columbia University, 3º Harlem. Como é muita coisa para contar, vou escrever cada parte num post. Bora lá? Saimos de Sp na sexta a noite, a ideia era irmos no show do Ba antes da viagem, porém pegamos trânsito e decidimos ir direto para o aeroporto. Pegamos o voo e tudo tranquilo, com exceção da turbulência na parte que sobrevoamos a Amazonia, eu realmente achei que ia morrer, o avião balançava demais e chovia muito. Chegamos as 5:30 da madrugada em Bogotá, fizemos os tramites e fomos dar um rolê em Bogotá.  É uma cidade muito linda, mais achei cara, 50 dolares renderam 95 mil pesos, e mal conseguimos passar a manhã. Bogotá parece uma cidade de porte médio do interior de SP. As montanhas ao fundo dão um ar mistico a cidade. Fomos de coletivo até o centro histórico, se perdemos no meio do caminho e pegamos

São eles, são elas!

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Saudações leitora, saudações leitor! Obrigado pela paciência de ler essas mal escritas linhas! Mas, se você veio até aqui, vamos ao que interessa! Tenho uma tendência incontrolável de escrever sobre coisas que me mobilizam, e, nada tem me mobilizado mais, que os alunxs da escola em que trabalho. É fascinante a diversidade e a vitalidade, recheada de resistência e sobrevivência daqueles meninos e meninas. Veja você, a escola é opressora, dominadora, castradora, formatadora (e não formadora), mas ainda assim, eles conitnuam lá, todos os dias esperando algo de novo, algo que lhes dê sentido. Hoje, eu estava no portão, esperando meu horário, e fiquei ali, olhando aqueles corpos jovens, docializados (ou não ? ), e pensando na inquietude, na necessidade latente que eles têm de viver desesperadamente a vida. De repente me dei conta, que talvez essa nessecidade frenética, urgente, desesperada, impulsiva de viver o aqui agora com  maior intensidade possível, esteja ligado a

SÓ MINA CRUEL: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE GÊNERO E CULTURA AFIRMATIVA NO UNIVERSO JUVENIL DO FUNK

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RESUMO: O presente trabalho é parte integrante da dissertação de mestrado da autora. Têm por objetivo refletir sobre as relações de gê nero entre jovens pobres moradores da periferia da Cidade de São Paulo, e parte do discurso narrado nas letras de FUNK escritas e ouvidas por esses jovens. Parte das reflexões de Herbert Marcuse e Theodor W. Adorno (Teoria Crítica da Sociedade) sobre o caráter afirmativo da cultura e formação, buscando considerar as relações de poder e dominação presente na sociedade moderna de base tecnológica, e quais são as formas que a opressão e a exploração sobre a mulher a partir da cisão entre razão e sensibilidade e o controle da natureza, se materializam no discurso presente no FUNK e nos espaços de relação entre os gêneros na nossa sociedade. A metodologia empregada foi a analise de 21 letras de FUNK veiculadas nos meios de comunicação (rádio e televisão) através de programas voltadas para o público juvenil da classe popular e a análise desse material

“A BUCETA É MINHA”: O CORPO COMO SUJEITO NO MUNDO

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Quais são as intersecções possíveis entre feminismo, funk e empoderamento da mulher? A pedagoga Jaqueline Conceição se debruçou sobre essa questão em artigo que será apresentado na Universidade de Columbia Por Marcelo Hailer* O nome de Jaqueline Conceição circulou nesta semana nos meios de comunicação por dois motivos: primeiro, pela campanha online que ela lançou para angariar fundos para uma viagem aos Estados Unidos, pois o seu artigo “Só Mina Cruel – Algumas Reflexões Sobre Gênero e Cultura Afirmativa no Universo Juvenil do Funk”, que trata da questão de gênero no universo do funk, foi selecionado para ser apresentado em um congresso da Universidade de Columbia, uma referência no mundo. O segundo motivo é que a campanha chegou na cantora de funk Valesca Popozuda, que gostou do projeto e resolveu ajudar Conceição a bancar a sua viagem para a terra do Tio Sam. Conceição resolveu tratar de um tema que é polêmico nos debates feministas, a questão da mulher e do feminismo no

O caso do vagão rosa: vagão só para mulheres, sociedade só para homens

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Reza a lenda urbana, que numa cidade enorme como São Paulo (aproximadamente 92 milhões de habitantes), onde 52% da população são espécies do sexo feminino, um simples vagão de trem na cor de rosa, por cada composição, livrará as mulheres da violência sexual diaria neste meio de transporte. Essa mesma lenda, afirma, que dessa maneira, só será vitima de violência quem quiser, já que, embora as mulheres sejam maioria, um vagão por composição será o suficiente para  protege-las. A mídia, que alimenta essas lendas, mostra em seus programas, diariamente, ora sutil, ora escancarado, as mulheres como objeto: de desejo, de consumo, de decoração, de submissão. Na mídia, as tais mulheres, são sempre novas, e quanto mais novinha melhor.  Há um programa em especial, um tal de Zorra Total, que não por acaso (ou seria acaso?), tem um quadro onde uma mulher é assédiada, e demonstra gostar, afinal ela é feia, que mulher feia não ia gostar de ser abusada, não é mesmo? Mas, esse papo de

Pelo direito a felicidade!

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Ando sentindo uma dor esquisita no peito. É uma dor que fica ali, doendo, doendo, doendo. Me pergunto, como se sente algo, que não sabe de onde vem ou por quê? Sabe, essa dor me impede de escrever, de sorrir... Essa dor as vezes me impulsiona, as vezes me para, as vezes me faz gritar, as vezes me cala... Vejo essa dor em outros rostos, outras histórias, na minha memória... Essa dor me faz gente, e eu me pergunto: o que é ser gente? Gente é levantar cedo, trabalhar, pagar as contas, sorrir ao ver um cachorro, discutir a crise mundial, acreditar que o céu é o limite? O que nos faz feliz? A propaganda diz que é o Pão de Açucar, ou um cartão de crédito. Fiz tudo que me disseram: cresci, estudei, casei, tive filhos, militei, e mesmo assim, não me vejo gente, não me sinto gente. Me sinto carne, a carne mais barata do mercado, a carne negra. Me sinto multidão, sem rosto, sem nome, sem história, sem passado, sem presente, sem futuro. Me sinto puta, perdida, largada,

Isso me dá falta de ar - parte II

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São 6 anos. 6 anos que descem pelo ralo. Em algumas culturas as águas usadas são reaproveitadas e servem para fazer outras coisas. Coisas novas diferentes. Mas, quando se chega no fundo, para onde mais se pode ir? Eu cheguei no fundo. Onde não há mais racionalidade, estou onde começa o caminho da mágoa. Não existe caminho sem volta, eu sei. Podemos tudo que quisermos, recomeçar, começar, refazer, fazer. Me sinto sem ar, sem chão, sem apoio. Quem me dera poder fazer como na música, e fazer um traje espacial pra na Lua viver. Mas a realidade é mais concreta que o realismo literário. Fico me perguntando, qual é doce mágica da convivência. Venho de uma trajetória familiar, onde todos os relacionamentos foram ou são fracassados. Meus pais se separam quando eu tinha seis anos, uma parte da família não conversa com a outra, minha mãe não fala comigo a mais de três meses. É nessas horas que eu compreendo todos os estudos sobre o fracasso social de indivíduos com trajetória

Sobre o corpo e a maternidade

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A coisa mais gostosa, quando nosso filho é bebê, é ficar deitado sentindo a pele macia e novinha do bebê. Mas, a medida que os filhos crescem, os momentos de contato pele a pele vão diminuindo. Gosto tanto de ficar deitada com os meninos na cama, brincando, se beijando: a gente brinca de salão de beleza, brinca de massageador, brinca de guerra de coceguinhas... Sempre fico com a sensação, de que mesmo quando forem adultos, eles saberão que meu corpo ainda é um espaço deles, e que desde o tempo da gestação, não há uma barreira entre nós. É uma coisa simbólica, mas acredito que no físico, o simbólico se concretize; e que ao poder tocar meu corpo sem pudor, eles sentirão que eu estou sempre ao alcance deles. Cresci, e me lembro muito pouco de poder tocar minha mãe ou meu pai, nem mesmo depois de adulta. Um simples abraço é motivo de constrangimento. Demorei muito, para compreender a função afetiva e emocional de tocar o outro. Foi preciso conviver cotidianamente com meu c

Quando lavar o banheiro se tornou um ato político .

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Ah, o FaceBook. Nada como ele para agitar essa tarde quente e monótona.  Como diria o poeta: dias quentes e longos pagando paixão. A pessoa que vos escreve, postou lá em terras virtuais (é, a terra dos amores eternos - SQN), que o seu compa tem feito com muito zelo as tarefas domésticas. Algo, como se fosse uma comemoração. E, de fato, um homem lavar o banheiro, na sociedade machista que vivemos, deve ser muito bem comemorado (e usado de exemplo, para que outros homens aprendam). Por que afinal de contas, ser feminista liberando a companheira para sair com quantos parceir@s quiser é fácil (até por que, o cara também se beneficia disso). Duro mesmo é cuidar dos filhos por igual, cuidar da casa por igual e assumir seu machismo sem recalque. Esse papo todo de banheiro e opressão, me lembrou um trecho do livro do Marcuse - A ideologia da sociedade industrial, quando ele explica o processo de dessublimação repressiva. É mais ou menos assim: para o desenvolvimento da civil

Eu tenho medo.

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Eu tenho os mais diversos tipos de medo. Mas, os que tem me acometido no último período são os medos maternos. Olho pros meus filhos, em especial pro João, que é o mais velho, e fico pensando que se eu pudesse, o deixaria livre dos males desse mundo. Ao terminar essa frase, já ouço um certo alguém me dizer, que devo lutar para que ele cresça num mundo humano e justo. Mas aí eu penso: que bom seria se as desgraças desse mundo, só o atingisse na idade adulta. Amanhã é o primeiro dia de aula dele na escola, digo, no 1ºAno do Ensino Fundamental, e ele está todo motivado, empolgado, ansioso.  Fico pensando nas possíveis frustrações, desde a professora ou professor ser um profissional estressado (pelos anos de exploração trabalhista), de que as coisas não saiam como ele está imaginando. A escola é pequena, a sala é super lotada (38 alunos!), faltam recursos didáticos. Mas, ás vezes também penso, que a expectativa dele pode ser bem simples: socializar com outras crianças e oc

Isso me dá falta de ar...

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Me dá falta de ar... Como fazer uma critica aos outros, sem que essa critica derrube pingos em mim? Partindo do principio, da unidimensionalidade dos sujeitos, ou seja, que não há mais diferenciação entre os indivíduos, são todos iguais e manipulados pela ideologia da sociedade industrial; tudo aquilo que critico no outro, tenho em mim. De qualquer maneira, alguma coisa está fora da ordem. Pequenas impressões do cotidiano, que vão sufocando, sufocando, sufocando... até dar falta de ar. Enquanto eu preparava o jantar, fiquei pensando sobre como a vida é tão igual e tão contraditória ao mesmo tempo. Tive a sensação de viver numa gaiola invisível. Presa nos mesmos problemas, igual a música cotidiano do Chico. Só que ao meu ver, a culpa do cotidiano enfadonho não é só dela (como nós faz crer a escrita poética machista do Buarque), que faz tudo igual, mas dele que não se esforça para construir algo novo. Ela pressiona e ele cede. É como, se o cotidiano fosse algo dado, in

As crianças mentem... mas e os adultos?

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Hoje, vendo meus filhos brincarem com as crianças da casa ao lado, ouvi o João mentindo. Sinceramente não tive nenhuma vontade em corrigi-lo. As crianças mentem. Mentem por vários motivos. No caso do João, acho que foi para não fazer feio para o amigo. O fazer feio, a gente pode entender pela reprodução do valor social de não se passar por menos: menos rico, menos informado, com menos brinquedo, enfim... Mas o que me deixou pensativa (a ponto de voltar a escrever no blog), é o por quê os adultos mentem? Tenho uma amiga, linda e querida, que eu amo, mas que vivo acusando de ser infantil (como se ser criança fosse algo condenável), ela me faz pensar muito, sobre a valoração que damos as crianças, e fico pensando até que ponto, os tais defeitos infantis dela, não são só hábitos dos adultos que as crianças incorporam em seu modo de ser e estar no mundo. E sendo assim, não é ela que é infantil, mas sim o mundo adulto que é perverso demais, e a culpabiliza pelo fato dela seguir