Os 5 pilares da Educação Antirracista

 



O pensamento branco insiste na concepção de que educar é algo externo e que uma pessoa que educa não é educada também no processo da educação.

Entanto, que a branquitude localiza a aprendizagem em livros ou processos externos ao corpo humano, como a inteligência artificial. 

Localizar a razão e o conhecimento fora do corpo, é o modo mais eficaz de controlar quem pode produzir conhecimento e quem pode acessar o conhecimento.

É esse o contraponto da Educação Antirracista: o conhecimento nasce no corpo e se compartilha com o corpo porque só se pode aprender com o corpo. 

Assim, na educação antirracista, o corpo é a palavra chave!

Mas, quais são os pilares fundamentais de uma prática educativa antirracista? Vamos conhece-los?

1. Auto conhecimento racial: uma pessoa não é capaz de partilhar letramento racial se ela não for capaz de racionalizar sua própria racialidade. Racionalizar como forma de elaborar e dar sentido a sua jornada racial. Sim, cada pessoa tema jornada racial que passa por experiencias coletivas (como a escravidão, os quilombos, as memórias históricas) e uma experiencia individual que passa por sua família, afetos e construções emocionais. 

2. Conhecimento teórico racial: para produzir pensamento cientifico é preciso pensar a realidade de forma sistemática a partir de categorias e conceitos. Categorias e conceitos são definidos pelas pessoas que produzem o conhecimento. Logo, se no caso da educação antirracista o conhecimento se produz pelo corpo, é o corpo quem institui as categorias de analise da sociedade. Por isso, para o feminismo negro, afeto é um aspecto fundamental para a produção de conhecimento.

3. Escuta racial: escuta racial não é sobre o ato fisico de ouvir, mas sim sobre a capacidade de reconhecer e legitimar o corpo negro e tudo que ele produz. Nós erroneamente costumamos equiparar praticas negras ao mundo branco: esse funk é bom porque o Caetano Veloso gravou, olha a Valesca Popozuda foi citada no vestibular, Carolina Maria de Jesus ganhou um prêmio. O colonialismo desvirtua a possibilidade da produção de conhecimento negro de sua própria experiência e valida a experiencia negra só se puder ser equiparada ao mundo branco. Logo, escuta racial é ser capaz de reconhecer a experiência negra sem a imposição do mundo branco como modelo a ser seguido. 

4. Reconhecimento da comunidade: no mundo branco, corpo é uma unidade individual. Na perspectiva afro diaspórica, corpo é uma unidade coletiva. Assim, saber, aprender e conhecer só são possíveis de forma coletiva, no coletivo e pelo coletivo. Essa experiência coletiva, Beatriz Nascimento chama de transe. O transe é um processo coletivo que precisa do canto, da musicalidade e da dança. Essas três unidades produzem um único corpo que se conecta no transe (o ogan toca, a ekedi canta e o yao dança). 

5. Educação afetiva: o mundo branco ocidental que centraliza o conhecimento e a cultura na figura do masculino, entende afeto como uma chave sexual, traduzindo afeto por sexo. No entanto, na muitas perspectivas de corpo e mundo (como as diversas perspectivas amerindias e africanas), afeto é toda experiência que atravessa e afeta nosso corpo e nossa percepção de mundo. Assim, uma educação afetiva é aquela que muda e transforma nosso corpo (não só fisicamente como também mentalmente).

Assim, educação antirracista é mais do que um enunciado que caracteriza uma prática, como um adjetivo. Educação antirracista é uma prática que se baseia numa forma de fazer-ser da pessoa educadora em relação com as pessoas em educação.

Educação antirracista não se baseia ao espaço escolar institucional. Muito pelo contrário, uma educação antirracista pode e deve acontecer na escola, na familia, nos espaços comunitários, nos espaços politicos e culturais, nas empresas, nos relacionamento afetivos - sexuais, nas redes sociais, no acompanhamento psicsnalitico.

Nos últimos 10 anos, conduzindo esse espaço - saber que é o Coletivo Di Jeje, pude aprender e pensar muito sobre meus fazeres - aprenderes circulando por empresas, escolas, universidades, movimentos sociais, terreiros e também na minha vida privada com meus filhos e companheiro; e eu me sinto muito feliz em poder retomar essa jornada e compartilhar esse conhecimento nas aulas/rodas de feminismo negro aqui no Di Jeje.

Dia 10 de Fevereiro, o Coletivo Di Jeje fez 10 anos e eu sempre me lembro de uma frase que ouvi de uma senhora negra com seus lindos cabelos brancos, numa das primeiras rodas de feminismo negro que eu fiz ainda no quintal de casa em São Paulo: "minha filha, não adianta você saber tanta coisa de tanta coisa se suas irmãs não conseguem entender nada do que você diz".

Como eu agradeço ela por ter me dito o óbvio e me mostrado a importância de saber compartilhar o que se tem. Por isso, te convido para o meu próximo curso sobre Educação Antirracista que vai acontecer em Março. Nele, estou voltando para o princípio, como uma forma de apontar caminhos para o agora.

Acessa o link e vem saber mais https://www.coletivodijeje.com.br/challenge-page/9ac395ae-a464-45c4-bdac-6a9df92e337b


Te vejo em breve!

Com afeto, Jaque.

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