Funk Sim!


Primeiro de Abril!
Em meio o caos que é minha vida, em meio as angustias da pós, finalmente consegui terminar esse texto.
Ele surgiu, como reflexo de um artigo que enviei pra um encontro de estudos feministas, marxismo e educação, uma pequena discussão que eu propus sobre o caráter afirmativo da cultura no funk.
De lá pra cá, já pensei muita coisa sobre isso.
Mas ontem, aconteceu uma coisa que me inquietou ainda mais.
Estava aqui na sala de casa assistindo ao Lolla Palloza, que passou na tv a cabo: é um festival de música supostamente alternativa para um público esmagadoramente jovem e branco, os tais hippisters (acho que é assim que escreve).
No mesmo minuto, que o Criolo cantava no palco, aqui na rua de casa rolava o famoso pancadão do funk, e enquanto a juventude branca e burguesa de SP curtia seu som, seu lazer, a molequecada preta e pobre daqui da vila levava esculacho da policia.
As duas cenas: a da tv e da rua daqui da vila expressam exatamente o sentido e o significado de ser jovem na sociedade capitalista.
Se os jovens brancos e burgueses não pudessem pagar pelo seu lazer, certamente tomariam as ruas de seus bairros, que é exatamente o que acontece com os jovens pretos e pobres.
Só pra ter uma ideia, do caos que é a coisa,  os dados do Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo de 2005/2006, descrevem, dentre outras questões relativas aos jovens paulistanos, as formas de lazer e os espaços para o lazer utilizados na cidade. E pasmem, além de poder pagar pelo lazer, os jovens brancos e burgueses podem usufruir dos equipamentos públicos como parques e praças, por que tais equipamentos, estão na sua grande maioria, localizados nas regiões centrais da cidade, que segundo o mapa, possuem menos jovens e são as mais ricas.
Agora eu pergunto: que raio de formulação de política pública é essa, que favorece a minoria rica? 
E não é só os espaços de lazer que estão no centro, lá estão o trabalho, a saúde, a educação: as pequenas ilhas de excelência criada pelo Estado, como por exemplo, o Parque da Juventude, que fica localizado na região central da Cidade, região essa que tem o menor índice de jovens por metro quadrado, a cada 10 moradores 3 são jovens.
Enquanto isso, aqui no fundão, a duas-três horas das ilhas de excelência ou do centro da cidade, como queiram, a densidade demográfica juvenil é de 7 jovens para cada 10 habitantes.
A cada 10 moradores do Capão Redondo por exemplo, 7 tem entre 15-29 anos. Desses 7, 5 estão fora da escola, 6 estão desempregados ou em subemprego (telemarketing é subemprego, para quem não sabe), 3 estão no crime, 5 são mães com um ou mais filhos e por ai vai. 
Agora, vamos pensar: longe do centro, dos serviços públicos de lazer, por exemplo, sem emprego e portanto sem dinheiro pra pagar pelo lazer em festivais super caros, o que resta pra moçada dos fundões da Cidade?
Pancadão na rua!!!
Podem dizer que o funk é obsceno, mas o tchê tchê re tchê tchê também é, podem dizer que eles bebem e usam droga, mas uma balada de eletrônica também tem bebida e muita droga.
O problema, o nosso problema é que além de sermos pobres, somos pretos. E ser preto nesse país, é um problema maior do que ser obsceno ou drogado.
Pra juventude branca e burguesa Lolla Polloza, pra juventude pobre e preta, tiro de bala de borracha e gás de pimenta.
Por que batuque na cozinha, sinhá não quer! 

Comentários

  1. Muito boa construção Jaque! Concordo com toda esta problematização da repressão as festas de rua na periferia!!!
    O fato de problematizar o conteúdo simbólico do funk é outra história... sabemos que o funk é cultura, embora também seja um bem produzido pela indústria cultural, que também tem promovido o funk ostentação que fortalece a cultura dominante capitalista e não a cultura de luta de classe. Mas acredito que isso é uma outra discussão e que isso não anula a questão colocada neste texto: resumidamente "Pra juventude branca e burguesa Lolla Polloza, pra juventude pobre e preta, tiro de bala de borracha e gás de pimenta.
    Por que batuque na cozinha, sinhá não quer! " é isso aí!

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  2. Cris, escrevi um outro texto, onde discuto o caráter ideológico do funk como produto da industria cultural, principalmente em relação a opressão sobre a mulher. Na verdade, esse texto que cito no começo do post, foi o que originou esse post sobre o funk. Depois se quiser, te passo. Chama "Só mina cruel: algumas analises sobre o funk e o caráter afirmativo da cultura".

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  3. Olá estou pesquisando sobre funk e educação e teu texto é ótimo para refletirmos sobre a criminalização do funk que é nada além de uma tentativa neoliberal de manter a juventude periférica calada.O funk é cultura sim!

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