Que a Tigresa possa mais que o Leão!


Estava terminado um texto do mestrado, e ouvindo essa música do Caetano (TIGRESA), e fiquei pensando quando existirá um mundo, onde ser mulher não será uma maldição?
Tenho trabalhado em um artigo sobre a educação sexual dos jovens, onde discuto, que essa formação é originada nos filmes pornográficos. 
Há uma lacuna na sociedade sobre quem deve educar as novas gerações em relação a sua sexualidade: desde o próprio sexo em si até o uso ou valor social do sexo, e claro, sobre machismo e homofobia.
Como nem a escola e nem a família assume para si essa tarefa digna, e, a religião mistifica e oprimi,quem faz as vezes de construir tais conceitos e possibilitar as experiências para os jovens acaba sendo a industria cultural (rádio, tv, filme,revistas e agora a internet como um todo).
O problema, é que o conceito de sexualidade da indústria cultural é um conceito violento: o sexo como instrumento de dominação do forte (homem branco - raras vezes o não branco ) sobre o fraco (homossexual,mulher, negr@, animal). E desta maneira, as novas gerações vão construindo sua concepção e sua forma de ver e lidar com a sexualidade.
No texto A Boceta de Pandora, discuto um pouco sobre o pseudo poder que a buceta tem em relação aos homens,pseudo poder esse legitimado pela pornografia como um todo. Desse conceito de poder da buceta, se desdobram muitas coisas, inclusive o fato de que toda puta (prostituta) é feliz e gosta do que faz, que a prostituta é mais emancipada que a mulher que não é prostituta, justamente por gostar de sexo e utilizar esse gosto para obter lucro.
Não podemos dizer, que sejam só os homens que tem sua sexualidade formada a partir da pornografia, muitas mulheres também consomem a pornografia, e de certo, essas mulheres devem concordam com esses homens.
A questão que chama minha atenção, e estou dividindo com os leitor@s do blog, é que essa leitura sobre a sexualidade feminina, pautada pelo fundo de opressão da pornografia é um problema, não só por inculcar que a violência é a única saída para a satisfação, mas por incentivar a alienação dos sujeitos com seus próprios corpos.
Do ponto de vista sexual, homens e mulheres são alienados em relação a sua própria sexualidade.
É mito achar que os homens são sexualmente mais satisfeitos e que conhecem melhor seu corpo por isso são mais capazes de sentirem prazer do que a mulher. O fato é que na loteria biológica  os homens deram sorte e nasceram com o órgão sexual exposto. O fato de ter aquele treco ali balançando o tempo todo, faz com que eles percebam o prazer intrínseco na coisa. 
Mas ao mesmo tempo, nem sempre sabem fazer uma mulher realmente ter prazer, mesmo que passem bastante tempo consumindo a pornografia.
Se a formação em todos os campos da vida é permanente, a formação sexual também o é. Se aprende sobre sexo e a sexualidade o tempo todo e em todos os momentos de nossa vida, e medida que a alienação se aprofunda; a relação do sujeito com seu próprio corpo se aprofunda cada vez mais: desde o uso de acessório, fantasias sexuais, instrumentos,animais, violência.
Cada vez menos, conseguimos estabelecer com nosso próprio corpo uma relação direta de prazer, ou precisamos do outro, e se o outro não quiser, tudo bem, eu forço, porque só se realiza através da violência (quem achar que eu exagero, dá uma olhadinha nos sites de vídeo pornô que 99% dos filmes trabalha com a violência explicita ou implicitamente).
Obviamente, o aprofundamento da alienação e da barbárie no inconsciente dos sujeitos, vai se objetivar nas relações sociais e culturais, uma passada rápida no youtube dá conta de ilustrar a quantidade de videos sobre casos de abusos de filhos e irmãos contra mãe, avós, tias, irmãs. É de arrepiar a alma.
Se nós já chegamos no fundo do poço, a última barreira é o que ainda se tem como sagrado: a família. E, é impressionante o número de videos pornográficos  contos, histórias sobre relações forçadas com mães, irmãs, primas, tias, filhas...
Qual o limite do prazer? Esse limite é ditado pela moral? 
Qual o certo e o errado do prazer?
E, o que mais me inquieta, por que nessa selva, a tigresa nunca pode mais que o leão?
Por que as mulheres sempre devem usar sua sexualidade para satisfazer os homens? 
Afinal sempre é assim, os homens querem ter várias parceiras, mas não querem ofender a moral vigente, então alardeiam o fim da monogâmica, e pressionam as mulheres (suas parceiras e possíveis parceiras) a serem livres também, criam regras e regras sobre isso, mas poucos se preocupam de fato com a libertação sexual, social, econômica, politica e cultural da mulher. O que eles querem mesmo é gozar sem culpa!
Agora, quero deixar bem claro para os homens feministas pós modernos: liberdade sexual sem igualdade cultural, acadêmica  econômica (principalmente), política e racial se chama bordel e não liberdade.
No bordel sim, as mulheres vivem sua liberdade sexual (já que para os homens liberdade sexual é sinônimo de quantidade de parceiras), mas continuam submissas aos gostos de seus clientes e as ordens de seus cafetões.
Faço minhas as palavras do poeta: [...] Ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar, e que vai poder ser o que quis inventando um lugar. Onde "a humanidade" e a natureza feliz vivam sempre em comunhão... e a Tigresa possa mais que o Leão[...]

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