Meu tratado de prosperidade


Dinheiro sempre foi um problema na minha vida. Quando eu era criança, eu brincava que era muito rica e mentia na escola que meu pai tinha carro.

Eu sempre tive muita vergonha de ser pobre, eu me sentia como se por ser pobre eu fosse menos pessoa, menos gente. Mas ao mesmo tempo, eu cresci e a medida que a minha possibilidade de aumentar meus ganhos foi se tornando real, veio a vergonha de ser rica.

Lembro que uma vez eu joguei búzios e o jogo me disse que eu nasci para ser tão grande quanto Xango. Isso é ser muito grande mesmo, por que Xango é o maior rei que os yorubas conheceram. 

Mas que droga, eu sou uma mulher negra que nasceu no berço da miséria. Será que ser doutora, dona de uma empresa e ter casa própria já não ser grande o suficiente?

Eu escrevo isso chorando, por que me dói pensar todo o esforço e sacrificio que eu fiz a minha vida inteira. Outro dia minha orientadora de doutorado disse que tem inveja de mim e da minha vida, por que faço coisas muito legais e criativas.

Eu fico pensando sobre ter dinheiro, sobre ser muito milionária. Sobre ter uma vida segura, uma velhice estável, sobre ser amada, sobre poder ser livre.

Eu preciso ser livre, eu preciso comprar minha liberdade e me fazer livre. Sem medo, sem amarra, apenas livre para ser quem eu quero ser, não quem eu posso ser.

As vezes eu tenho a sensação de que estou no mar, lutando contra as ondas, tentando achar o caminho para casa. Hoje eu faço um acordo comigo mesma: eu vou me libertar.

Eu mereço ser feliz, eu mereço ser amada. Eu mereço ser rica, eu mereço ser livre.

Com convicção do meu comprometimento com minha liberdade.

Jaque

Setembro/2023

Ilha do Desterro -SC

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